No dia 15 de dezembro de 2017, no Hospital das Clínicas de São Paulo, nasceu o primeiro bebê do mundo gerado em útero transplantado de doadora falecida. A gravidez, que ocorreu durante uma pesquisa do hospital, foi tranquila e é um marco para a medicina brasileira.
Transplante de órgãos
A mulher, que nasceu com a rara Síndrome de Rokitansky, não tinha o útero e, por isso, só conhecia duas opções para se tornar mãe: a adoção ou a barriga de aluguel. O experimento do Hospital das Clínicas deu a ela a oportunidade de gerar sua própria criança.
O ocorrido foi possível por causa de um estudo da equipe de Transplantes de Órgãos do Aparelho Digestivo do HCFMUSP, que contou com o patrocínio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e, em 2013, recebeu autorização para realizar três transplantes de útero para gestação. O grupo abriu inscrições via e-mail e estudou diversas pacientes que precisavam do transplante.
Os transplantes de órgãos já vêm acontecendo há anos e muitos países, como a Suécia, tentavam realizar o procedimento com o útero, abrindo a possibilidade de uma mulher com problemas gerar um bebê. O Brasil, porém, é o primeiro a fazer o transplante com o órgão de uma pessoa falecida.
No começo da pesquisa, os médicos testaram o método em cadáveres e ovelhas e chegaram a viajar para a Suécia para treinamento. Em 2016, decidiram fazer a cirurgia.
Gravidez de útero trasplantado
“Ela recebeu o útero em setembro do ano passado, em uma cirurgia que durou 10 horas. Ficou alguns dias internada e seguiu para casa, sem nenhum problema ou rejeição do corpo. Esperamos até abril para realizar a transferência de embriões e bastou uma tentativa para ela engravidar”, explica Dani Ejzenberg, um dos médicos responsáveis pelo procedimento e especialista em reprodução humana e endoscopia ginecológica.
A gestação correu bem e foi acompanhada por profissionais como Luiz Augusto Carneiro D’Albuquerque, professor que faz parte do Serviço de Transplante e Órgãos, Edmund Chada Baracat, professor e doutor da Divisão de Ginecologia-Centro de Reprodução Humana e Wellington Andraus, um dos médicos cirurgiões a implementar o projeto.
A mãe deu à luz através de uma cesárea, já que não poderia ter o bebê por parto natural. Nesses casos, há risco de vasos se romperem durante o momento, comprometendo a saúde de ambos. A criança nasceu bem e deu à equipe a sensação de dever cumprido.
Brasil é pioneiro em procedimento
O projeto do grupo do Hospital das Clínicas ainda não acabou e com o sucesso da primeira etapa, ainda vai passar por mais dois procedimentos, tendo conclusão apenas em 2018.
“Foi extremamente difícil e muito longo o processo, exigiu um esforço de muitas pessoas. Me senti gratificado, ficamos muito contentes, não só do ponto de vista científico. O acontecimento abriu o caminho de muitas pacientes que não têm o útero. Fiquei muito feliz de participar dessa vanguarda mundial com uma notícia positiva e estamos juntos com os principais centros médicos do mundo”, conta Ejzenberg.
Renovar a esperança de mulheres com problemas para gerar os próprios bebês é apenas o primeiro motivo que torna tão importante a conquista da equipe do HC. Além de abrir portas para futuras mães, o êxito do grupo revela o quanto é relevante incentivar a doação de órgãos no Brasil.
Doação de órgãos no Brasil
O médico ainda fez questão de lembrar a importância da doação de órgãos, que foi um dos fatores essenciais para que o experimento acontecesse.
“Não tem risco de transferência de carga genética e é interessante que as pessoas façam isso, doem. Foi graças a essa doação e outras que pudemos fazer o estudo e dar continuidade ao projeto”, esclarece o especialista.
Fonte: Vix